O carteiro acorda-me todos os dias
Acordei cedo. Aliás, levantei-me cedo. Acordar cedo, acordo eu todos os dias desde que o Gustavo nasceu. Várias vezes. O meu corpo habituou-se. Dormir pouco. Aos bochechos. Hoje decidi levantar-me mais cedo. Já estou a preparar o almoço, já apanhei roupa, arrumei a cozinha, li um bocado, tomei o pequeno almoço sossegada. Soube-me pela vida. Tudo, no geral. Não foi apenas o pequeno almoço. Há bocado o carteiro tocou à campainha, como tem feito todos os dias da semana desde que estou de licença de maternidade. Ganhei um pequeno ódio de estimação pelo carteiro. Acorda-me sempre. Às vezes, quando ninguém o faz, abro-lhe a porta. Estar em casa não tem sido melhor do que estar a trabalhar. Em relação ao descanso. Nada a ver. Diz que vai ser pior quando voltar a trabalhar. Acrescentar tarefas, diminuir o tempo. Eu vou andar a correr. Vou achar que o tempo voa. Nao vou conseguir respirar. Talvez seja bom. Faz parte da vida. Eu gosto da vida. E de tudo o que ela tem. Sinto-me preparada.