Truque contra os ataques de bruxas
Quando cheguei à escola aprendi a contar até quatro. 1 2 3 4. Só depois até ao infinito. Mais tarde, aprendi o que são bruxas e o que elas fazem ao longo da sua vida cinzenta. A minha professora era muito cuidadosa com esse tema. "Recolhe os pézinhos quando fores dormir". Até hoje, escondo os braços e os pés debaixo das mantas quando vou sonhar. Nunca conheci nenhuma bruxa enquanto menina de sapatos de verniz e laços na cabeça. Tive o azar de encontrar algumas (conto três e desta vez são mesmo três, não quatro) na fase mais madura. Madura para alguns, ter quarenta anos (são cinquenta? parece) e manter a cabeça no lugar não é fácil. Eu sinto o cheiro de bruxas a duzentos metros de mim. O vocabulário é reduzido, as gargalhadas são altas, os olhares atentos. São bem simples de detectar. Existe um truque que a minha professora me ensinou de forma a nunca afectar-me por uma. E ao contrário do que podem estar à espera, atacar não é forma de defesa. Nem ter medo. O truque é olhar para elas, para a vida delas, e gargalhar baixinho. Por dentro. Por dentro os risos misturam-se com dó e ficamos imunes aos seus ataques. Depois dos números, do infinito, das bruxas, aprendi a escrever e a ler. C,O,CO, C,Ó,CÓ. Cocó. Tenho saudades da minha professora, era uma fada. Deu-me o melhor que a vida me ia dar de qualquer das formas. Deu-me a possibilidade de fazer da minha vida o que quiser. Quantas vezes que quiser. Até ao infinito."Ela baixa a cabeça porque tem medo" "Não, ela baixa a cabeça porque prefere o chão"