Falam no casamento como falam na gravidez, nesta coisa de ter filhos. Fazem um bicho papão de tudo. Nem tudo corre bem, as pessoas deviam estar habituadas. Se a morte existe, como podia não existir sofrimento? Quando estão sorridentes em frente do público desconhecem defeitos. Quando estão a informar o público da felicidade sentida não conhecem imperfeições. Incentivam os outros, os sorrisos incentivam os outros. Ter filhos é tão lindo, é tudo tão perfeito. Até ao dia que preferem assombrar os dias dos outros. Os dias cinzentos, esquecidos de felicidade. Longe do público. Lembram-se da dor, contam os tempos difíceis que irão chegar, fazem questão de lembrar que a vida não é amiga, é chata. Traz problemas. Eu sei, eu sei que os problemas nascem nas pessoas e às vezes no dinheiro que as pessoas não recebem. Nascem dentro do corpo por causa do que se passa fora dele. Os defeitos não aguentam ficar escondidos debaixo de pedras. Aparecem. Queixam-se tanto, passam as feridas para os outros. O casamento é uma má ideia, dizem. Os filhos dão trabalho, dizem. Estão a preparar os outros, tão bonitos. Não estão. Estão a assombrar. Estão a lamentar a vida. Sei que nada se consegue sem sacrifício. Sei que é preciso fazer para ter. Sei que é preciso sentir em qualquer das opções. Deixem os outros sofrer quando tiver de ser. Obrigada.