...
Estava a gravar um vídeo quando comecei a reparar que a imagem transmitida pela câmara estava a ficar menos visível. Estava a desaparecer. Apanhei um susto daqueles. A minha cabeça conseguiu saltar de um filme de terror: "pronto, agora é que me lixei e vou ser enviada para um planeta cheio de cães" para a realidade que é uma espécie de filme de terror: "a minha câmara estragou-se". Comecei logo a chorar para dentro, não choro para fora porque fui treinada para segurar as emoções por causa de bens materiais (para além de achar fútil e parvo), depois tentei arranjar um culpado (não consegui) e já na reta final pensei que a câmara ia ficar boa e que não tinha que me preocupar (o mundo não ia ser injusto comigo, agora que uma pessoa andava entusiasmada com o canal). Fui arrumar roupa, sempre a fugir com o pensamento daquele drama material. Fui comer. Fui lavar o chão. Quando voltei a pegar na câmara os cinco metros quadrados à minha volta voltaram a ficar cor-de-rosa e fui feliz para sempre. Era só um bocado de humidade na lente.
Se tivesse levado a minha vida sempre com este género de atitude tinha mijado menos na cama e poupado o meu estômago de muita coisa. Mas já está, já aprendi.