Antes, era tão bom, tão giro. Podia receber o ordenado e estoirá-lo todo nas lojas de roupa e depois ainda ia à perfumaria e comprava um perfume, uma base e no supermercado acrescentava uns champôs, cremes para isto para aquilo. Seis a oito livros por mês. Quatro pares de sapatos. Vestidos, montes de vestidos. Chegava a casa cheia de sacos. “Onde é que tu vais meter tanta coisa?”. Arranjava mais um buraco no armário e deitava-me feliz. “Sou tão fixe, tenho tantas coisas novas”. Antes, todo o ano, sem esperar pelos saldos.
Agora é tão bom, tão giro. Chego a casa e tenho a despesa cheia de porcarias para comer, de legumes e as coisas saudáveis. Sumos, não faltam sumos. Tenho uma cama quentinha cheia de cobertores. Continuo a ter champôs e perfumes mas não faço muita questão de comprar outro sem terminar o que já tenho. E roupa, reinvento, reinvento e costumo torcer o nariz a tudo o que há de novo nas lojas. Se falarmos de maquilhagem já é outra coisa, quero tudo. Estamos nos saldos mas não faço questão de comprar nada. Chega bem o que recebi dali e de acolá. Os sacos chegam a casa com vinho, com chocolates, pão, detergente e fruta. Deito-me cansada. “Sou tão fixe, amanhã invento mais uma receita”. Agora, todo o ano, mesmo em saldos.
Pouco penso nos saldos, tenho um frigorífico que substitui um armário.