Marcas limpas de uma só vez
Foto retirada do Google
Tive de arrumar a roupa toda antes que ele chegasse. Não o que queria ver mais e era fácil fugir dali para fora. Olhei para o copo quase vazio de vinho, dei um gole e vi a marca que ficou no móvel. Uma marca que facilmente podia sair com um pano molhado. Não ia limpar. Farta de marcas andava eu. Faltava um casaco preto. Meti-o na mala cheia. A minha forma de vida numa mala vermelha. Ah, os perfumes. Sem o meu cheiro, a minha pele, o meu andar naquele chão, estava tudo morto. Como as rochas perto do mar. Corri o fecho e suspirei. Estava na hora de fugir dali para fora. Sempre fora medricas pelos outros. Não tenho qualquer problema em dizer o pior, olhos nos olhos. Não tenho pena, sou cruel e consigo ferir mais que uma bala. Saí pelas escadas a correr. A partir daquele momento o passado estava fechado. Limpo como quem limpa as marcas de vinho. De uma só vez.
- Como é que és capaz?
- Nasceu comigo.