Gostamos os dois de não gostar um do outro. Sabemos não ter solução. Diariamente é uma luta para desistir. Desistimos. Sabemos desistir e fingir que está tudo tão bem. Sabemos desejar boa sorte de forma irónica um ao outro. Com alguns beijos pelo meio. "Segue a tua vida, boa sorte, bjs". Resume-se a isto no final do dia. No dia seguinte, a incomoda sensação no estômago instala-se. Sempre que as memórias fazem questão de dizer que é impossivel apagar momentos. Não se apaga o frio nas mãos. O frio das palavras. Essas quando apontadas não têm caminho de volta. Vai ser sempre assim. Os braços abertos, os braços cruzados.
Não vale a pena negarem o que a raiva teima mostrar. Não se silencia raiva. É a raiva que une as pessoas, mais que o amor. As faz questionar por dentro. "Se me irritas, o que faço eu novamente a pensar em ti?". É a isto que chamam amor, a falta de resposta.
Começa por repetir várias vezes por dia que "ele/ela morreu". E vai morrendo aos bocadinhos. Apaga tudo o que esteja relacionado com a pessoa. Não oiças músicas que te lembre momentos fofinhos. Entre um passo e outro, diz baixinho que "ele/ela morreu". Isso não pode falhar. Deixa de frequentar os sítios que faça a tua mente relacionar tudo com a pessoa a riscar. Se tudo relacionar, muda de cidade. Vai de férias. Emigra. Pelo menos nas primeiras (5) semanas. Outro ponto importante é o telemóvel. Não ligar, não telefonar, e nada de mensagens a horas tardias com coisas do género: " sinto a tua falta". Se não decoraste o número e ele/ela não te deve dinheiro, apaga instantaneamente da lista de contactos. Não te metas a pensar nos momentos bonitos que passaram juntos, lembra-te sempre das porcarias que te disse ou fez. Tem o cuidado de nunca o odiares. O ódio anda de mão dada com outros sentimentos, não sendo saudável, retarda todo o processo acima referido.
Não gosto de ver televisão. O namorado gosta muito de ver televisão. Prefiro os livros. Ele prefere as series. Mesmo a dar O Sexo e a Cidade na Fox, o livro está sempre em primeiro lugar.Não troco. Ter de escolher entre um livro e a net, já não sei decidir.
Enquanto folheava algumas páginas, lembrei-me de perguntar.
- Gostas que eu leia?
- Gosto.
- Porquê?
- Ficas sossegada e não estás na net.
Coisas a reter.
Só estou sossegada quando leio, caso contrário, sou chata. Nem a net me deixa sossegadita. Para além de passar muito tempo online.Falo demais, pergunto demais, canto ou oiço música demais, escrevo, faço tudo demais. E só os livros me acalmam. Só as histórias dos outros me levam para longe das minhas (sim, plural!). Talvez seja por isso que goste tanto de ler. Pelo menos não estou a parvar. E sempre o deixo ver as series à vontade. Conclusão, não sou uma namorada assim tão chata, principalmente a ler. Ou a ler. A dormir não conta. Não tenho bom dormir.
A minha irmã sempre sonhou pequeno. Lembro-me das nossas conversas de miúdas. Antes de adormecermos, contava-me que queria abrir um café quando fosse mais velha. Eu ria-me. Um café? Oh rapariga que raio de sonhos tens tu. E chegou mesmo a trabalhar em vários cafés da zona. Nunca parava no mesmo lugar. Saltava de emprego em emprego. O seu sonho era aquele e ninguém os ia mudar. Eu sonhava ser dançarina. Professora. Jornalista. Escritora. Casar. Ter uma menina. Levar a minha mãe para minha casa para me fazer o jantar. Ter uma biblioteca só minha. Ser rica. Sempre sonhei alto. Queria tudo ao mesmo tempo. Ainda não realizei nenhum deles. Nem um. Por querer tudo. A mana já está casada, tem uma menina e está a uma semana de abrir o café dela. A mana é mais nova que eu. Conseguiu aquilo que sempre quis. Orgulho-me dela. Oh rapariga quem diria, quem diria. O tempo passa, eu cá ando. A sonhar. A querer tudo ao mesmo tempo. A fazer tudo ao mesmo tempo. A sonhar alto, a conseguir sonhos pequenos.
Criei uma conta no Facebook para o blogue só por curiosidade. Adicionei os amigos que conhecem o blogue. Pouquinhos. O Miguel, a Marta, o Alexandre, e pouco mais. Comecei a ficar viciada e a ganhar gosto por lá andar. Os convites começaram a surgir. E corria tudo muito bem. Mas, há sempre um lado negativo em tudo. O Facebook não é excepção.
Recebi um convite para adicionar vindo de um colega de trabalho, o S.. Conclusão. Ele, assim como os restantes colegas não deviam ficar a saber da existência deste blogue. Uma pessoa não se sente à vontadinha para escrever. Não pode dizer mal da empresa ( como se fosse possível... cof cof ), nem desta ou daquela situação. Pronto, o Facebook tirou-me a privacidade. E agora só tenho vontade de bater com a cabeça na parede enquanto digo baixinho: "que ideia foi esta de criar uma conta Facebook? não tinhas mais nada para fazer?não Cláudia, não tinhas..."
Agora é cruzar os dedos para ele, o S., não referir o dito blogue aos setes ventos. Esquecer-se que existe um Mau Feitio por trás da Cláudia Oliveira. E eu própria deixar de pensar nisso. Já me passou pela cabeça apagar o blogue todinho e renascer noutro lado qualquer, começando do zero. Dá trabalho, minha gente. Muito trabalho. E não apetece nada. Uma pessoa ganha ligação.
Vão estar no blog das cronicasdeamor.blogs.sapo.pt . No lugar delas. Pode acontecer tropeçarem por aqui. Pode acontecer que faça copy/paste dos meus próprios textos e coloque aqui alguns. Poucos. Para quem gosta de amar, e goste de ler as várias formas de amar, clique no vizinho do lado. Faço a minha própria publicidade. Se não for eu, quem será? Eu.
Peço-me inspiração. Que nunca falhe. Enquanto existir uma pessoa que seja a gostar, cá andarei.
Cuidado com a doçura das coisas de Raphaele Billetdoux
Não costumo ter cuidado com esse tipo de coisas. Com a doçura, portanto. Sou gulosa, sem excessos. Mas não tenho cuidado.
Este é o livro que me acompanha. Conta a história de três irmãs, orfãs de mãe. É tudo o que sei até agora. Li vinte sete páginas. É um livro pequeno. Fácil de ler. Agradável. Doce.