Crónica de Amor: Escondido entre os dedos. Não é fácil
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Faço sempre merda com os outros, principalmente quando gosto. Quando gosto muito. Acabo por magoar e dizer sempre as piores frases do Mundo. Quando gosto, é assim. Não deveria ser mas não sei ser de outra forma. Por essas e por outras é que vou acabar sozinha, sentada no baloiço do jardim a ver a Lua e acordar com o vestido amarrotado. A pensar nas parvoices que faço só para não me deixar envolver pelos sentimentos que teimo em não querer. Prefiro que sejam os outros a sentir por mim e não ao contrário. Talvez seja por isso que só me interessam aqueles que se interessam por mim. Para ter a capacidade de fugir antes de ser apanhada. Para o jardim. Só que por vezes tudo se volta contra mim, fazendo a minha boca ficar aberta de tão espantada. Mesmo em frente ao espelho. Onde consigo ver a verdadeira Cláudia. Onde posso deixar os meus olhos brilharem à vontade sem ouvir "nota-se tão bem, já viste o brilho dos teus olhos?". Quando coloco a minha própria mascara tudo parece fácil, mas não é. O vestido mesmo sujo, tem vestigios de poeiras de lugares onde a Lua é diferente. O baloiço continua a baloiçar ao sabor do vento. O jardim fica coberto de geada. Tapo os olhos na esperança que o brilho não se mostre por entre os dedos. Não, não é fácil.
Um dia alguém que eu amava muito deixou-me sozinha no Mundo e antes de partir disse-me: "Nunca deixes que alguém te faça mal, que sejas tu a quebrar corações". Eu decidi seguir à letra.
(todas as sextas, no lugar do costume, uma crónica de amor para um fim de semana apaixonado)